O Mercado Clandestino de Importação de Lixo no Brasil

O Mercado Clandestino de Importação de Lixo no Brasil

Você sabia que navios desembarcam no Brasil trazendo toneladas de lixo? Parece incrível, mas essa é uma realidade preocupante. Durante seis meses, a equipe da Record TV mapeou as rotas das quadrilhas que importam ilegalmente lixo para o Brasil. Empresários europeus pagam fortunas para se livrar dessa carga indesejada, incluindo até mesmo materiais hospitalares usados. Neste artigo, exploraremos por que o Brasil se tornou alvo desse tipo de carga ilegal e revelaremos detalhes exclusivos sobre esse mercado clandestino.

O Crescimento do Mercado de Lixo Ilegal no Brasil

Nos últimos dez anos, o Ibama realizou 106 apreensões de lixo que chegaram ilegalmente ao Brasil, totalizando 4.500 toneladas interceptadas pelas autoridades. O lixo que desembarca aqui é camuflado, muitas vezes escondido em supostas cargas de sobras de papelão, que são restos da produção original desse material. Essas sobras são importáveis e utilizadas na fabricação de caixas, como as embalagens de pizza. No entanto, os documentos de importação são constantemente fraudados para evitar suspeitas.

A Fraude e os Custos do Descarte de Lixo

A maioria das apreensões de lixo no Brasil chega aos portos com guias de importação que indicam serem apenas sobras de papel. No entanto, o conteúdo real é lixo, materiais usados que não podem ser enviados de um país para outro. Nos aterros sanitários do Brasil, assim como em países europeus, o tratamento adequado do lixo é extremamente caro. Os custos envolvidos, desde a coleta até o descarte correto, chegam a uma média de 300 euros por tonelada. No contrabando ilegal de lixo doméstico, o custo é três vezes menor, cerca de 100 euros por tonelada. Para as quadrilhas internacionais, é mais barato pagar pelo embarque do lixo em navios com destino ao Brasil.

A Rota do Lixo e a Denúncia

O Brasil tornou-se parte da rota do lixo, e uma mulher diretora de uma empresa atuante no setor de reciclagem é quem faz a denúncia. Ela foi abordada por agentes internacionais para embarcar lixo de várias cidades da Itália, incluindo o maior aterro sanitário da Europa, Malagrota, localizado nos arredores de Roma, diretamente para o Brasil. O plano era enviar 600 mil toneladas de resíduos por ano. A empresa italiana responsável pelo envio do lixo é a Difesa Ambiente. Segundo a empresária, a Difesa fabricaria laudos falsos para enganar as autoridades tanto na Itália quanto no Brasil.

Empresas Brasileiras Envolvidas no Contrabando de Lixo

A investigação da Record TV descobriu que pelo menos cinco empresas brasileiras enviaram cartas à Difesa Ambiente e à empresa italiana, concordando em receber o lixo proveniente de Malagrota. Duas dessas empresas estão localizadas em Pernambuco. Uma delas é a Ambiental, localizada na periferia de Jabuatão dos Guararapes, próxima a Recife, que se dedica à reciclagem de lixo. Embora o dono da empresa não estivesse presente, ele admitiu por telefone ter negociado a importação. Segundo a denúncia, o lixo importado seria posteriormente transferido para a EcoPark, um aterro localizado na cidade de Igarassu, próxima da capital pernambucana. No entanto, a EcoPark negou qualquer envolvimento no recebimento do lixo italiano. O Ibama negou os pedidos de importação do lixo italiano por três vezes.

A Questão do Lixo Hospitalar

Um aspecto particularmente alarmante é a importação de lixo hospitalar. Imagens impressionantes mostram resíduos, como seringas e embalagens de soro, a maioria triturada, apreendidos no porto de Suape, em Pernambuco, em fevereiro deste ano. Essa carga saiu do porto de Leixões, em Portugal, passou pela Espanha e chegou a Recife. A segurança sanitária do país foi colocada em risco, uma vez que é impossível determinar o nível de risco à saúde enfrentado pelas pessoas em contato com resíduos hospitalares. Em 2021, um carregamento semelhante foi enviado do porto de Barcelona, na Espanha, para Pernambuco. No entanto, nenhuma perícia da Polícia Federal foi realizada, e a carga foi devolvida. Ninguém foi responsabilizado por esse incidente.


O contrabando de lixo se tornou um mercado lucrativo e ilegal que está chamando a atenção das organizações criminosas. O Brasil, infelizmente, tornou-se parte dessa rota, enfrentando a chegada de toneladas de lixo importado ilegalmente. A falta de controle e a fraude documental permitem que essa atividade continue, representando um risco significativo para a saúde pública e o meio ambiente. É essencial que as autoridades intensifiquem seus esforços para combater esse comércio clandestino, protegendo o país contra a importação ilegal de lixo e promovendo práticas sustentáveis de reciclagem e descarte adequado de resíduos.

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